quarta-feira, 11 de maio de 2011

O paneleiro

Teias de aranha emolduravam as portas do velho armário, que desde seu ingresso naquele local, teve a companhia de um fogão outrora amarelo e com quatro bocas reluzentes, hoje o seu colorido é de um desbotamento grotesco e suas bocas mais parecem noites sem luar, tamanha a quantidade de ferrugem que lhes acompanham.
No lado esquerdo, de acordo com a visão de quem entra, uma mesa, mais nova que os dois primeiros é verdade, mas nem por isso esbanjando vitalidade, pois o convívio íntimo com cupins deterioriza qualquer relação por mais rígida que seja. As cadeiras que acompanhavam a mesa, eram seis, possuíam aspectos diferenciados, duas apresentavam um ar jovial, pois inexplicavelmente não sofreram os mesmos abusos de pesos e troca de funções, tais como servir de escada para limpar o velho armário, alvo de travessuras e brincadeiras das crianças, etc.
A pia ficava junto à janela, também era amarela, porém não era a primeira a fazer parte deste contexto, até porque as pias resistem menos aos infortúnios de suas atividades, pois são sempre um pilar fundamental as rotinas de seu núcleo.
No lado direito acompanhando o fogão e o armário, a imponente geladeira, altiva e de certa forma um pouco arrogante em relação aos colegas, pois embora não fosse nova, já sofrera algumas reformas e isto acentuava sua vaidade. E bem no cantinho um pequeno paneleiro ignorado às vezes pelos companheiros e relegado a um segundo plano. Porém além de cumprir suas tarefas com esmero, este era dotado de uma grande sensibilidade, pois fora ele que me descreveu o ambiente em que vivia e me disse o seguinte: - Em uma cozinha todos tem importância e por mais simples que sejamos, quando nos ausentamos às pessoas sentem muita a nossa falta, sendo assim esta sensação de essencialidade já me basta e me faz feliz.

Geógrafo da Alma!

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